Toda vez que uma pessoa atribui a si mesma direitos, benefícios e poderes que nunca conquistou ou mereceu, de certa forma, ela está se comportando de maneira arrogante, ainda que não tenha a intenção de se colocar em um pedestal.
Ficou complexo? Então, vamos simplificar. Vou revelar cinco comportamentos (além da projeção de grandeza) que também podem ser indícios de arrogância. Se você pratica três ou mais desses comportamentos com frequência, existe uma possibilidade forte de que você seja uma pessoa arrogante, mesmo que não tenha a intenção de ser. Vamos dar uma olhada neles?
1. Incapacidade de Resolver Conflitos sem Opressão
Você é incapaz de resolver um conflito de opiniões ou interesses sem a necessidade de oprimir a outra parte? Em outras palavras, ao menor sinal de discordância, você já entra na conversa praticamente de voadora, falando alto, ofendendo e ironizando o que a outra pessoa disse.
Quando você parte direto para a ignorância, e pior, sem uma tentativa prévia de resolver essa divergência de maneira civilizada, isso comunica, nas entrelinhas, que você não confia na consistência dos seus argumentos e não se acha merecedor do respeito do próximo. Por isso, tenta compensar essas lacunas usando a opressão, porque se acha intitulado a uma colaboração que, no fundo, sabe que não merece.
Uma outra manifestação desse tipo de comportamento são as “carteiradas” precoces. Por exemplo, imagine que a pessoa comprou um produto ou contratou um serviço que a deixou insatisfeita e, já no primeiro contato com a loja ou com o profissional, chega dizendo que ficou insatisfeita (até aqui, tudo bem) e que, se não tomarem uma providência imediata, vai chamar a polícia e acionar o Procon.
Existem lojas e profissionais que não cooperam com o cliente e só funcionam na base da ameaça? Sim. Mas, nesse exemplo, esse foi o primeiro contato dela com os responsáveis. Quem garante que haveria necessidade de “carteirada”? De repente, eles colaborariam numa boa, sem necessidade alguma de ameaça!
De novo, quando a opressão é precoce e sem uma tentativa prévia de resolver as coisas numa boa, é porque a pessoa não se acha merecedora de respeito, mas, ainda assim, quer ser respeitada na marra. Isso, gente, é pura arrogância.
2. Incapacidade de Conviver com Pessoas Diferentes
Você só consegue andar com pessoas que concordam 100% com tudo o que você pensa? Em 2018, na época da eleição, uma garota do meu Facebook falou: “Que orgulho que eu tenho dos meus amigos aqui do Face, nenhum deles se manifestou a favor do político tal.”
Que vontade de comentar: “Mas é claro, minha filha, você desfez a amizade com todos aqueles que eram!”
Quando você só consegue conviver com pessoas que concordam integralmente com suas opiniões, é porque se acha intitulado ao direito de estar sempre com a razão, e qualquer divergência de pensamento é automaticamente processada como uma ameaça.
Veja bem, não estou dizendo que você agora tem que ficar andando com gente que não está em ressonância contigo. Mas, quando chega ao ponto de cortar o contato com amigos de longa data ou até mesmo familiares só porque essas pessoas revelaram ter um ou dois pensamentos diferentes dos seus, isso é como focar apenas em uma árvore e ignorar o resto da floresta.
Essas pessoas que você cortou, com certeza, tinham características e qualidades que se sobressaíam a essa divergência de opiniões que, a seu ver, era gravíssima.
Já dizia Jung que o ser humano só é capaz de se tornar indivíduo em relação ao próximo, e que isso envolve o reconhecimento do lado oposto.
Você não precisa abrir mão das suas opiniões nem concordar com as opiniões do próximo, mas, quando aprende a respeitar essa opinião e enxergar o ser humano que existe para além dela, é aí que você atinge um grau de maturidade que, infelizmente, ainda é para poucos.
Desculpe, mas não existe evolução no caminho da conveniência.
3. Você Sempre Faz as Pessoas Esperarem Além do Aceitável
Você vive se atrasando para todo e qualquer compromisso que marca com os outros? Atrasar de vez em quando é normal, quem nunca? Agora, quando os seus atrasos são frequentes a ponto de serem a sua marca registrada e você ter fama de “atrasildo” ou “atrasilda” entre as pessoas do seu convívio, existe a possibilidade de que você está, inconscientemente, usando os seus atrasos para projetar uma certa superioridade sobre os outros.
No sentido de que o seu tempo é mais valioso que o das outras pessoas e que, por elas estarem à sua espera e incapazes de fazer qualquer coisa até você chegar, mal ou bem, elas estão nas suas mãos.
Isso não é invenção minha; existe literatura falando sobre isso. Esse fenômeno já foi abordado em diversos estudos sobre comportamento social.
4. Você é uma Pessoa “Simasista”
“Simasismo” é uma modalidade de vitimismo em que a pessoa fica sempre reclamando das mesmas coisas e, ao mesmo tempo, rejeitando todo e qualquer conselho que os outros dão para ela.
E, toda vez que rejeita esses conselhos, reconhece que o conselho é válido, só que não é aplicável ao caso dela. Por isso, batizei esse comportamento de “simasismo”, porque a pessoa fica sempre dizendo “Sim, mas é que…”, “Sim, mas…”, “Sim, mas…”. Está vendo?
Segundo Eric Berne, autor do livro Jogos que as Pessoas Jogam (“Games People Play”), isso é, muitas vezes, uma artimanha inconsciente de validação social.
Como assim? Quando a pessoa fica rejeitando toda e qualquer sugestão que você dá para resolver o problema dela, o que está comunicando, nas entrelinhas, é que ela é especial e que nada do que é convencional funciona com ela.
Ela “vence o jogo” a partir do momento que você desiste de ajudar, porque é nessa hora que vem a confirmação de que ela é especial e que ainda está para aparecer alguma solução que funcione para ela.
5. Você Vive Movendo as Balizas
O que é “mover as balizas”? Sabe quando as pessoas improvisam um espaço para jogar bola e usam aquelas balizas móveis ou até mesmo os calçados para demarcar o gol? Então, volta e meia aparece alguém que fica alterando o espaço entre as balizas para dificultar o gol do time adversário.
Quando uma pessoa fica movendo as balizas no âmbito da inteligência social, o que isso quer dizer é que ela fica toda hora alterando as regras do debate em benefício próprio, ou seja, para impedir que a outra parte fique com a razão.
Exemplo:
- A pessoa inicia criticando um ponto específico.
- Quando você apresenta argumentos sólidos, ela muda o foco da crítica para outro aspecto.
- E assim sucessivamente, nunca admitindo estar errada ou reconhecer a validade dos seus argumentos.
Esse tipo de comportamento torna impossível qualquer diálogo construtivo, pois a pessoa está mais interessada em “vencer” a discussão do que em chegar a um entendimento.
E aí estão, cinco comportamentos que podem ser indícios de arrogância. Você se identificou com três ou mais desses comportamentos? Eles se manifestam com frequência? Então, cuidado, porque pode ser que você esteja exibindo uma arrogância não intencional, mas que nem por isso deixa de ser uma ameaça para a sua vida social, amorosa e profissional.